terça-feira, julho 18, 2017

porventura criminoso

Pode alegar-se que as declarações do médico Gentil Martins e do candidato do PSD-CDS à Câmara de Loures são do mesmo jaez? Sim e não.
Sim, porque a ambas subjaz um preconceito, que, à partida, configura a descriminação de um, vamos lá, grupo social. E não, por um cacharolete de razões.

Martins alia a condição de facultativo reputado e homem de ciência (ou seja: não é propriamente um manda-bocas) a uma convicção religiosa arreigada, que, em minha opinião, lhe tolhe o discernimento (estou, agora, a ser um preconceituoso ateu...). Mais do que isso: é um conservador católico. Por estranho que possa parecer, um católico conservador traz em si uma mundividência (para dizer o mínimo) que não se arranca como um adesivo, ao sabor das conveniências da moda, do politicamente correcto, da caça à popularidade e aos likes  do facebook ou duma qualquer candidatura, já que ele não é candidato a nada. Além disso, que eu saiba, ainda não é crime ser-se conservador. Talvez querer tolher a opinião de Gentil Martins aí sim, possa configurar um crime; e denunciá-lo à Ordem seja uma atitude persecutória -- não para Gentil Martins, que deve ser para o lado que dorme melhor, mas para quem tenha a ousadia de expressar opiniões idênticas (isto começa a cheirar mal).

Já o Ventura é uma personagem do mundo maravilhoso da televisão; quer votos, quer aparecer, quer dar nas vistas. Não é para levar a sério (outro preconceito...). No entanto, em vez de oferecer electrodomésticos ao eleitorado, canaliza-lhe os medos directamente para a urna, em boçal populismo, porventura criminoso (a Constituição proíbe; talvez seja motivo para proibir-lhe também a candidatura).

Não há ciganos (como não há negros, brancos ou imigrantes): há indivíduos, uns cumpridores e decentes, outros indecentes e socialmente prevaricadores. Apor o ónus de marginalidade numa comunidade inteira, além de configurar um delito racista, é deplorável. Tratando-se de um político, candidato a condicionar, para o melhor ou para o pior, a vida quotidiana dos munícipes, o seu destino já deveria estar traçado pelo TC.


Sem comentários: