sábado, novembro 26, 2016

os dois Fidéis

O Fidel Castro da revolução, o guerrilheiro da Sierra Maestra, o que se levantou contra os plutocratas que governavam o país, o que tinha vergonha na cara por Havana ser a casa de putas da máfia e dos magnatas americanos; o que teve políticas sociais incomparáveis que fazia com que, por exemplo, desde há décadas Cuba tivesse uma taxa de mortalidade infantil ao nível da da Suécia, enquanto que os salvadores, as honduras, as guatemalas, os haitis (!) eram (e são) esgotos a céu aberto por onde correm as dejecções de todos os somozas que os governam -- eis o Fidel interessante e que aprecio.
O Fidel demolhado pelo poder, paternalista, moralista, monarquista, ditatorial e sem habanos, esse não me interessa. 
A História irá absolvê-lo? O purgatório está-lhe certamente reservado; mas em comparação com muitos dos seus homólogos, ela, a História, talvez não deixe de pesar tudo isso a seu favor.
P.S. Fidel, no início, não era comunista; foi a crónica burrice dos americanos em mat´ria de política externa que o empurrou para os braços da União Soviética.

3 comentários:

Maria Eu disse...

Concordo plenamente. Há que saber ver a evolução de Fidel com a razão.

Beijinhos, Ricardo :)

Jaime Santos disse...

Um homem pode ser simultaneamente um herói e um vilão e esse era certamente o caso de Fidel. Mas o falhanço do seu nacionalismo esquerdista autoritário, com os tiques peronistas próprios do 'Comandante', mas copiados a outras figuras menos gradas da América Latina, representa mais uma prova de que Disraeli e Walter Bagehot tinham razão e que o parlamentarismo na tradição britânica (em modo social-democrata escandinavo, digo eu, mas onde isso já vai) é mesmo a forma mais justa de governar os homens. Ou se se quiser, o pior de todos os sistemas com exceção de todos os outros. Porque raio é que os EUA não se converteram antes nas Províncias Norte-Americanas, reino de Sua Majestade Isabel II, pela graça de Deus ;-) ?

R. disse...

Razões que o coração desconhecerá, Maria.|

Foi tema do meu jantar, Jaime, tentar explicar à minha filha mais nova que a maior parte das questões têm vários prismas, e também fui parar às Escandinávia.
Quanto aos EUA, talvez continuassem a sentir-se demasiado onerados e representados de menos...