domingo, dezembro 20, 2015

o voo do pinhão, segundo Aquilino

«Precipitado de tão alto do pinheiro solitário, balançou-se num instante e ensaiou um voo oblíquo. A meio caminho volteou, rodopiou, viu as nuvens ao largo, a terra em baixo e, saracoteando a fralda, desceu em espiral. Poisou em cima duma fraga, ligeiro como um tira-olhos. Mas novo pé-de-vento atirou com ele para a banda, quase de escantilhão, e a aleta, tomando-se de imprevisto fòlego, arrebatou-o para mais longe. Foi cair numa mancheia de terra, removida de fresco pelos roçadores do mato, e ali permaneceu à espera que a pancada de água ou calcanhar de homem o mergulhar no solo, dado que um pombo bravo o não avistasse e engolisse.»

A Casa Grande de Romarigães (1957)

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